1 - Desde a antiga civilização romana, pelo menos, que muitos
homens têm o hábito de pôr um letreiro no muro da frente de sua casa, a dizer:
“Cuidado com o cão”. Esta cautela, é evidente, é pedida aos homens que passam
pela rua, mas estes terão de ter mais cuidado com o dono de cada um desses
animais caninos – embora até lhe chamem o seu próximo – do que com o cão
propriamente dito. Pois nunca se viu um cão a ser tão predador como pode ser o
seu dono.
Sem falarmos agora da diária e sangrenta predação que os
homens do globo praticam entre si, sabemos por exemplo que nós, os humanos,
“capturamos peixes na idade adulta a uma taxa 14 vezes maior do que os próprios
predadores marinhos, e em terra matamos carnívoros do topo da cadeia alimentar
natural a uma taxa 9 vezes superior” (Net, 27/8/15).
2 – Estranha é também, para Einstein “a nossa situação aqui
na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, muito
embora por vezes pareçamos adivinhar um objectivo. Mas, do ponto de vista do
quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens
– acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa
felicidade”. Einstein citado por Richard Dawkins, em A Desilusão de Deus, p.255.
3 – É o homem um ser estranho, sim, mas também por outras
razões. Pois será pela veemência com que cria, defende e vive do seu eu mental que
Krishnamurti diz que “a vida do homem é uma coisa estranha”. Duas vezes pelo menos
o diz ele num livrinho de Cartas a uma
Jovem Amiga. Di-lo quase no final de
duas cartinhas seguidas, mas logo acrescentando nos dois lugares a frase
lapidar com que remata os textos e desvenda aquela estranheza:”Feliz o homem
que é nada”. Frase que também serve de subtítulo à obrinha deste mestre.
“Feliz do homem que é nada”, isto é,
que, anulando, ou melhor, transcendendo a nascida
coisa que é o seu eu mental, está para além dela. Em vez de “ser” ou “não
ser”, o homem é nenhuma nascida coisa “nulla
res nata”, e por isso é nada (veja aqui o texto anterior).
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