domingo, 11 de outubro de 2015

331 - Um Testemunho Insólito

De agnóstico ateu a agnóstico crente
Olá, amigas e amigos! Mão amiga levou-me recentemente ao feliz conhecimento da existência de um outro blog que, de quando em vez, agora visito por ter coisas muito belas. É o Phytospiritualité. Desta vez, em edição de 7-9-15, ele põe-nos à nossa frente Emmanuel Schmitt (ES) a falar connosco. ES é filósofo e também escritor já eminente sobretudo em países francófonos. E agora, no seu recentíssimo livro que tem por título La Nuit de Feu, ele conta-nos como acontecera aquela sua experiência mística num alto monte da Argélia, no meio das areias do deserto. Experiência mística que bem se pode comparar com aquela, mais antiga, de que fala o nosso texto imediatamente anterior a este. Eis como ES nos conta a sua experiência, partindo nós de dois pequenos segmentos desse livro, entre os citados pelo referido blog:

Eu perdi-me no meio do deserto, sem água nem víveres. Numa exaltação de alegria, eu acabava de descer apressado o monte Tahat, o pico mais alto do Hoggar, com essa pressa perdendo o contacto com os meus companheiros de grupo. A noite cai e com ela vem o frio. O vento levanta-se e com ele o medo de ter medo. Então, eu cavo um leito de areia, sepultando aí o meu corpo já congelado em seu torpor. (…) Ao fim de alguns minutos, eu sinto o meu corpo dividir-se em dois. Um fica na terra, o outro sobe aos ares. À sensação de desmembramento, junta-se a de um alongamento infinito. Eu sou tão grande como o deserto, sou um com o universo. Aproximo-me de uma Força fundamental e fundo-me nela. Totalidade. Mais tempo, mais espaço. Beatitude. Paz. Luz. Tudo tem um sentido. Tudo está justificado. Entro num Fogo. A eternidade dura toda a noite. Voltando ao invólucro do meu corpo, eu tento encontrar palavras. Esta Força não me deixou a sua identidade. Tudo ia para além da linguagem, do conceito. Deus? Sim, Deus, pois que é assim que os homens lhe chamam. Seja o que for que de ora em diante me aconteça, eu sou habitado pela confiança e pela alegria. Quer eu morra ou viva, isso tudo será como crente.
           
Noutro passo, ele diz: Contrariamente ao filósofo ateu (que eu era), agora eu tenho a chance de tirar da minha noite o meu encantamento e alegria. Mas, para as questões que mais me importam, eu não encontro respostas certas. Quando digo “Sim, Jesus é o Filho de Deus”, isto não é a afirmação de uma certeza objectiva mas de uma adesão.
Quer dizer, depois de, perdido no deserto, se ter encontrado com o Fogo, Emmanuel Schmitt passou, como diz, de agnóstico ateu a agnóstico crente.


Nota: Agradeço à Cristina Cidade ter-me dado conhecimento do Phytospiritualité. Soube deste blog quando ela o referiu como um dos seus favoritos, na altura em que se inscreveu como seguidora de O Fascínio. Agradeço e desejo-lhe as maiores felicidades, agora na sua nova aventura em Timor, com a família.

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