De agnóstico ateu a
agnóstico crente
Olá, amigas e amigos! Mão amiga levou-me recentemente ao feliz
conhecimento da existência de um outro blog que, de quando em vez, agora visito
por ter coisas muito belas. É o Phytospiritualité.
Desta vez, em edição de 7-9-15, ele põe-nos à nossa frente Emmanuel Schmitt (ES)
a falar connosco. ES é filósofo e também escritor já eminente sobretudo em
países francófonos. E agora, no seu recentíssimo livro que tem por título La Nuit de Feu, ele conta-nos como
acontecera aquela sua experiência mística num alto monte da Argélia, no meio
das areias do deserto. Experiência mística que bem se pode comparar com aquela,
mais antiga, de que fala o nosso texto imediatamente anterior a este. Eis como
ES nos conta a sua experiência, partindo nós de dois pequenos segmentos desse
livro, entre os citados pelo referido blog:
Eu perdi-me no meio do
deserto, sem água nem víveres. Numa exaltação de alegria, eu acabava de descer
apressado o monte Tahat, o pico mais alto do Hoggar, com essa pressa perdendo o
contacto com os meus companheiros de grupo. A noite cai e com ela vem o frio. O
vento levanta-se e com ele o medo de ter medo. Então, eu cavo um leito de
areia, sepultando aí o meu corpo já congelado em seu torpor. (…) Ao fim de
alguns minutos, eu sinto o meu corpo dividir-se em dois. Um fica na terra, o
outro sobe aos ares. À sensação de desmembramento, junta-se a de um alongamento
infinito. Eu sou tão grande como o deserto, sou um com o universo. Aproximo-me
de uma Força fundamental e fundo-me nela. Totalidade. Mais tempo, mais espaço.
Beatitude. Paz. Luz. Tudo tem um sentido. Tudo está justificado. Entro num
Fogo. A eternidade dura toda a noite. Voltando ao invólucro do meu corpo, eu
tento encontrar palavras. Esta Força não me deixou a sua identidade. Tudo ia
para além da linguagem, do conceito. Deus? Sim, Deus, pois que é assim que os
homens lhe chamam. Seja o que for que de ora em diante me aconteça, eu sou
habitado pela confiança e pela alegria. Quer eu morra ou viva, isso tudo será
como crente.
Noutro passo, ele diz: Contrariamente
ao filósofo ateu (que eu era), agora eu tenho a chance de tirar da minha noite o meu encantamento e alegria. Mas, para
as questões que mais me importam, eu não encontro respostas certas. Quando digo
“Sim, Jesus é o Filho de Deus”, isto não é a afirmação de uma certeza objectiva
mas de uma adesão.
Quer dizer, depois de, perdido no deserto, se ter encontrado
com o Fogo, Emmanuel Schmitt passou,
como diz, de agnóstico ateu a agnóstico
crente.
Nota: Agradeço à Cristina Cidade ter-me dado conhecimento do Phytospiritualité. Soube deste blog
quando ela o referiu como um dos seus favoritos, na altura em que se inscreveu
como seguidora de O Fascínio. Agradeço
e desejo-lhe as maiores felicidades, agora na sua nova aventura em Timor, com a
família.