Na sequência do texto 44, apresentamos hoje mais alguns apontamentos – mera opinião de simples curioso mas também de amante – sobre poética.
Um poema é uma sala de segredos onde, através do primeiro sentido dos materiais significantes, as palavras nos podem desvelar novos sentidos, sentidos poéticos. Pelos nomes que impuseram às coisas, os seres humanos fizeram aparecer ou criaram o seu universo. E agora, o poeta, dando sentidos novos a esses mesmos nomes, ele está criando um mundo novo e original. Criando para si, mas também criando para os humanos companheiros porque os nomes são os mesmos, e o mesmo é também o seu primeiro sentido.
Os sentidos novos ou poéticos, com os quais um texto se constitui texto poético, não são geralmente fáceis de descobrir pelos seus receptores. É preciso estes pararem nas palavras, olhá-las ou ouvi-las e senti-las dentro de si com atenção, palavras densas, para que os poéticos sentidos germinem e apareçam à nossa pessoal subjectividade ou consciência, É assim isto como que um parto ou um aparecer de um novo mundo, semelhante ao que aparece aos outros receptores e em primeira mão apareceu também ao poeta, como primeiro criador desse mundo novo. Semelhante mas nunca igual em cada caso, já que cada indivíduo tem a sua própria e irrepetível subjectividade. Nunca igual, mas sempre possível e semelhante, de modo a cada um poder entender o mundo novo dos outros, porque o texto poético continua ligado à terrena pedra dos significantes das palavras, as quais nunca perdem o seu primeiro sentido, o sentido vulgar ou denotativo, que, tal como os significantes, é de todos conhecido!
Se nos perguntarem para que serve a poesia, nós podemos simplesmente responder que ela não serve para nada! A poesia não é meio para um fim; ela é fim de si mesma; ela é o desvendar de um novo mundo, para cuja contemplação somos convidados; é prazer para fruirmos. O universo poético, que o poema nos oferece é para nada, a não ser para com ele nos deliciarmos. Tal como a vida, também a poesia é só para fruir: não são instrumento para nada, a não ser para serem fruídas. É para nada, realmente, mas depois o poema, por intermédio dos receptores assim por ele transformados, pode levar à transformação do mundo: passarmos realmente de um mundo fracturante e feio, que é aquele em que vivemos, para um mundo belo e bom, apontado pelo universo do poema. Transformação que não deve ver-se especialmente em sentido político, mas sim e sobretudo em sentido espiritual, enfim transformação do homem todo e de muitos homens, se não todos.
É então o poema uma sala de segredos, segredos escondidos “nas suas conchas puras”, como diz o bem-nascido poeta (44). E é destes ressoantes segredos e destas côncavas conchas que temos vindo a falar. Mas o poema é também uma promessa de luzes, que em promessa sobem da terra e, logo depois, em voluptuosa incandescência, elas se abrem e derramam em molho no escuro de altas noites festivas. Inopinadamente, no ar, elas abrem-se em mil cores, para em breve se extinguirem. E no entanto, embora breves, elas são eternas para nós, como nós eternos somos, como são também as rosas do jardim de Adónis. É assim ainda o poema um jardim de flores, tecido vegetal que o poeta estende sobre a terra, para nossa delícia. Que espécies? Que perfumes? Que cores? Que volumes? Saberemos ser abelhas para haurirmos o seu mel?
Um poema é uma sala de segredos onde, através do primeiro sentido dos materiais significantes, as palavras nos podem desvelar novos sentidos, sentidos poéticos. Pelos nomes que impuseram às coisas, os seres humanos fizeram aparecer ou criaram o seu universo. E agora, o poeta, dando sentidos novos a esses mesmos nomes, ele está criando um mundo novo e original. Criando para si, mas também criando para os humanos companheiros porque os nomes são os mesmos, e o mesmo é também o seu primeiro sentido.
Os sentidos novos ou poéticos, com os quais um texto se constitui texto poético, não são geralmente fáceis de descobrir pelos seus receptores. É preciso estes pararem nas palavras, olhá-las ou ouvi-las e senti-las dentro de si com atenção, palavras densas, para que os poéticos sentidos germinem e apareçam à nossa pessoal subjectividade ou consciência, É assim isto como que um parto ou um aparecer de um novo mundo, semelhante ao que aparece aos outros receptores e em primeira mão apareceu também ao poeta, como primeiro criador desse mundo novo. Semelhante mas nunca igual em cada caso, já que cada indivíduo tem a sua própria e irrepetível subjectividade. Nunca igual, mas sempre possível e semelhante, de modo a cada um poder entender o mundo novo dos outros, porque o texto poético continua ligado à terrena pedra dos significantes das palavras, as quais nunca perdem o seu primeiro sentido, o sentido vulgar ou denotativo, que, tal como os significantes, é de todos conhecido!
Se nos perguntarem para que serve a poesia, nós podemos simplesmente responder que ela não serve para nada! A poesia não é meio para um fim; ela é fim de si mesma; ela é o desvendar de um novo mundo, para cuja contemplação somos convidados; é prazer para fruirmos. O universo poético, que o poema nos oferece é para nada, a não ser para com ele nos deliciarmos. Tal como a vida, também a poesia é só para fruir: não são instrumento para nada, a não ser para serem fruídas. É para nada, realmente, mas depois o poema, por intermédio dos receptores assim por ele transformados, pode levar à transformação do mundo: passarmos realmente de um mundo fracturante e feio, que é aquele em que vivemos, para um mundo belo e bom, apontado pelo universo do poema. Transformação que não deve ver-se especialmente em sentido político, mas sim e sobretudo em sentido espiritual, enfim transformação do homem todo e de muitos homens, se não todos.
É então o poema uma sala de segredos, segredos escondidos “nas suas conchas puras”, como diz o bem-nascido poeta (44). E é destes ressoantes segredos e destas côncavas conchas que temos vindo a falar. Mas o poema é também uma promessa de luzes, que em promessa sobem da terra e, logo depois, em voluptuosa incandescência, elas se abrem e derramam em molho no escuro de altas noites festivas. Inopinadamente, no ar, elas abrem-se em mil cores, para em breve se extinguirem. E no entanto, embora breves, elas são eternas para nós, como nós eternos somos, como são também as rosas do jardim de Adónis. É assim ainda o poema um jardim de flores, tecido vegetal que o poeta estende sobre a terra, para nossa delícia. Que espécies? Que perfumes? Que cores? Que volumes? Saberemos ser abelhas para haurirmos o seu mel?