sábado, 30 de julho de 2016

441 - A Fina Flor da Liberdade

1 - Olá, amigas e amigos! Numa das suas cartas, Paulo de Tarso, fundador do cristianismo, fala-nos de uma guerra violenta que se trava dentro de si. Diz-nos que a sua vontade o arrasta a fazer o que não quer, a fazer o mal, em vez de o levar a fazer o bem, que é o que quer. E não o leva a fazer o bem porque ela, a vontade, é para isso impotente. Só a graça, a graça de Cristo, o poderá levar (ver textos 24 e 40).
Para os gregos da Antiguidade Clássica, porém, todo este assunto era muito mais luminoso e simples, muito menos apaixonado e sombrio. Antes de mais, eles não conheciam a faculdade da vontade (ver texto 165). E quanto à própria acção humana, havia duas maneiras de agir. Pela primeira, que nem chega a ser propriamente humana, nós agimos impelidos pelo instinto, assim estando completamente sujeitos ao determinismo universal. A segunda, verdadeiramente humana e luminosa, é aquela em que agimos segundo a luz da nossa razão, assim ficando livres do império instintivo, mais livres e de algum modo senhores, e por isso um tanto menos sujeitos ao referido determinismo (ver texto 131).

2 – Com esta segunda maneira de agir, não se trata de violentar à obediência as nossas forças instintivas, mas sim de a razão as sentir, as conhecer, as ouvir atentamente, as controlar, com elas até criando cumplicidades, de modo a que as duas partes se possam entender. Se Paulo tivesse procurado este íntimo entendimento entre as quentes paixões e a fria mas luminosa razão – sempre que com coragem o procurarmos, ele naturalmente há-de chegar –, já não teria necessidade de nos falar da guerra dramática que dentro de si sentia.
É claro que, para alcançarmos e mantermos o tal entendimento, é preciso muito trabalho e até muito sofrimento. A virtude, ela própria, até nos pode calejar para esse necessário sofrimento, a fim de que ele se nos torne mais fácil, e depois contribua para um prazer maior (ver texto 147).


3 - Resta tão só lembrar a suculenta alegria que todo este labor nos vai dando e deixando, ao longo da vida, e bem assim a fina flor da liberdade de sermos nós os senhores de nós mesmos, sem nada de bom perdermos daquilo que nos constitui, mas libertos do instintivo jugo. Mas, continuarmos ainda entalados nas malhas de grande parte do restante determinismo universal, isso faz parte de nós por sermos seres de vicissitudes e de tempo, e por isso pouco ou nada há a fazer. Mas isto não é dramático! Não, porque nos leva a permanecer ligados à terra: àquilo que nos é natural, e não ao que imaginamos por força das nossas desenraizadas ideias. Aliás, se a esse determinismo não resistirmos mas o aceitarmos, assim aceitando irmos na corrente dessas vicissitudes medidas pelo tempo e a que vamos sendo sujeitos, mais livres nos poderemos tornar. É muito bom então tomarmos tal atitude, pois que ela nos vai livrar de muito sofrimento. Mais liberdade e também vida melhor.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

440 - Aqui, à Sombra

Sente-se uma suave brisa nos braços, nas pernas,
no rosto, na água, nas altas folhas dos choupos:
é o lado ameno do clima, abrigo do rigor estival

quarta-feira, 27 de julho de 2016

439 - A Ilusão e a Verdade

Depois da infância, vamo-nos impondo ideias,
doutrinas e preconceitos  para conhecer o mundo:
mas só o que é não é ilusão, só o que é é a verdade

terça-feira, 26 de julho de 2016

438 - Diz que Disse

Quando outros dizem coisas de ti
- que foi e que aconteceu –
elas não são tuas, mas deles

domingo, 24 de julho de 2016

437 - O Sentido do Mundo

Cada um de nós é consciência do mundo e, assim,
por nós, o mundo tem consciência de si mesmo:
nós damos sentido ao mundo

sábado, 23 de julho de 2016

436 - Evolução

Pertencerá o mundo aos mais aptos
e é a violência a grande lei da vida, ou o mundo
é feito para sobreviverem os mais amáveis?

Nota: Veja Bruce H. Lipton em A Biologia da Crença, pp. 239 e seguintes

quinta-feira, 21 de julho de 2016

435 - A Deusa da Fortuna

Podes planear o teu futuro, sim,
mas não te esqueças de que o acaso
te pode trocar muitas dessas voltas

quarta-feira, 20 de julho de 2016

434 - Papagaio de Criança

O papagaio voa, voa, sobe aos céus:
não porém por não ter corpo,
mas por ter a alma leve

segunda-feira, 18 de julho de 2016

433 - O Festim das Fotos

Nas fotos premiadas nos países ricos,
sangram as amarguras dos países pobres:
que mais se faz, para além desse festim? 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

432 - Provável Fuga

Se muitos ricos da Terra fugirem para Elysium, daí,
outros ricos fugirão, depois, para outro planeta:
eles não praticam o valor da humanidade partilhada

quarta-feira, 13 de julho de 2016

431 - Uma Regra de Oiro

Antes de aceitarmos doutrinas, para professar,
aprendamos nós a conhecer, a fim de as discernir:
elas podem não ser verdadeiras

terça-feira, 12 de julho de 2016

430 - Uma Boa Perspectiva

Quanto mais nos convencermos da brevidade da vida
- só um ai, um sopro só neste imenso universo –
mais ela, saborosa, se nos vai alongando

domingo, 10 de julho de 2016

429 - Frágil e Intermitente Felicidade

“(Rabih) Sabe que a felicidade perfeita vem apenas em minúsculas unidades incrementais, talvez não mais de cinco minutos de cada vez. É isto que uma pessoa tem de agarrar com ambas as mãos e apreciar.”

Citação de Alain de Botton, em O Curso do Amor, p. 244. Um muito belo romance que, no jornal Expresso, talvez por ter sido lido muito ao de leve, levou só três estrelinhas.

sábado, 9 de julho de 2016

428 - O Sagrado e o Execrando

As piras não devoram por completo os corpos
e ondas de imundície inundam as águas do rio:
é o sagrado que redunda em execrando

sexta-feira, 8 de julho de 2016

427 - Mesa Posta

Podemos olhar o nosso passado e prever o futuro,
mas a mesa está posta no presente,
pois é o agora que nos dá alimento

sábado, 2 de julho de 2016

426 - A Bicicleta da Vida

A vida é como andarmos de bicicleta:
como é o movimento que vivos nos mantém,
não  haja desalento, para não cairmos