quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

270 - Um Lugar Seguro

Mãe gatinha muda os filhotes para lugar seguro:
o humano bicho tem também seguro lugar,

ou tem só o sem lugar do seu íntimo?

domingo, 25 de janeiro de 2015

269 - Nacionalismos

Onde havia duas gémeas torres o céu ferindo
há agora cinco, mais alevantadas ainda:

é o ferido orgulho de um nacionalismo infrene

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

268 - A Flor da Liberdade

Liberdade, sim, mas inteligente e contida,
logo começando por actuar dentro de nós:

O fruto da liberdade é o amor

domingo, 18 de janeiro de 2015

267 - Bichos Perigosos

O que torna perigosos alguns bichos humanos
não é a fome nem a sua força física,

mas certas ideias que trazem na cabeça

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

266 - Ciúmes

 Quando os martelinhos de um piano soam
e as etéreas ondas do soar o perfume levam,

as flores do jardim agitam-se cheias de ciúmes

domingo, 11 de janeiro de 2015

265 - Mundo Bom e Belo e Mundo Mau e Feio

1 - Olá, amigos e amigas! Abre-se aqui um conjunto de três textos inspirados em Hannah Arendt, pois tive a felicidade de conviver com ela, já que viva continua na sua obra denominada Pensar. Centrada na intimidade do ser humano - lugar sem lugar nem tempo, onde só mal se ouve o bulício mundano do que aparece aos sentidos e apenas se sente um leve rumor do tumultuoso mundo das paixões da alma -  Hannah Arendt fala-nos muito baixinho, quase só um balbuciar de verbo mental, sobre a vida do espírito.
         A ideia destes textos trouxe-a então eu desse sagrado convívio, nem eu deles agora sabendo bem o que é dela e o que lhe é alheio, por certo que neste caso já lhe adulterando o seu pensar, espúrias glosas estas de presumido aprendiz, por também gostar de tocar no recôndito do sagrado do ser humano. Ouro puro é o dela, de muitos quilates, à mistura agora com este grosseiro metal que é de usança nesta oficina de textos. Mas como as diferenças serão bem notórias, facilmente se destrinçarão os dois, pelas bem diversas propriedades de cada um.      
Nunca é demais falarmos, para melhor nos conhecermos, dos elementos que nos constituem como seres humanos: do nosso corpo e da nossa mente, e agora também da actividade de pensar e conhecer, que é própria da nossa mente (ver textos 13.3, 14 e 15).
        
2 - Num tempo florescente em paz e desenvolvimento económico e cultural, como aconteceu na Grécia antiga no tempo de Platão e Aristóteles, o ser humano, para além de ver satisfeitas as suas básicas necessidades para poder viver com dignidade, pôde sentir ainda um prazer especial em estar vivo. E então, o corpo e o coração e a vontade libertaram a razão, que assim se entregou, quase esquecida do corpo, à sua peculiar actividade de pensar, ou melhor, de especular, a partir da motivação do espanto que, através dela, o “ser humano todo” sentia perante as realidades do mundo, assim boas e belas.
         Ao contrário, porém, entre os romanos, nos tempos da decadência imperial em que dificuldades e perigos de toda a sorte perseguiam o ser humano, aí o corpo e o coração e a vontade ocuparam e quase aprisionaram a razão impondo-lhe que encontrasse solução para os perigos em que todos eles e a própria razão caíam. É então, portanto, este o tempo em que, em vez do admirativo espanto grego perante um mundo considerado belo e bom, nos aparece, inventado pela razão, o “nil mirari”, o “não te admires de nada” do que vai acontecendo no mundo; nos aparece como lema de vida a fuga desse mundo nada belo e nada bom; nos deparamos especialmente com os ditames estóicos, propostos pela razão, para que o corpo e o coração e a vontade possam vencer as prementes dificuldades e infortúnios da vida.
         Houve um nobre cidadão romano, nos finais do império, um romano de alta relevância social e política, que fez funcionar exemplarmente aquele “nil mirari”, pondo a sua razão a encontrar remédio para o infortúnio absoluto em que tinha caído. Acusado injustamente de crimes, condenado a uma morte medonhamente lenta para que a perda absoluta da vida lhe fosse mais sentida e sofrida, condenado num julgamento fantasma em que nem sequer esteve presente por estar retido numa cela à espera da sua morte, Boécio escreve, para seu consolo, precisamente o livro que se intitula Da Consolação da Filosofia.

         3 - Quer dizer, a filosofia, que, para os gregos servia para pensar ou especular sobre a vida e sobre o mundo a partir sempre de um agradável espanto motivador, é utilizada agora, entre os romanos, para os ajudar e consolar nas amarguras da vida. Neste mundo de ilusões, a nossa vida é como a roda da fortuna. Nas partes exteriores da roda, reina de facto a fortuna, com as desgraças que o destino nos traz; mas à medida que a contemplamos no seu centro, nós vemos que uma “verdade imutável” a governa.
         Coisa curiosa é notar que, sendo Boécio um cristão, estaríamos à espera que ele olhasse os reveses da vida e o mistério da morte na perspectiva da sua religião. Manifestamente não o faz, porque quem lhe aparece na cela a consolá-lo, é precisamente essa nobre e jovem figura feminina, que se chama Filosofia.
         Portanto, nós pensamos quando, movidos pelo espanto, sondamos o mundo bom e belo que somos e em que vivemos, mas também pensamos quando, neste mundo nada bom e nada belo que nos constitui e onde estamos envolvidos, o nosso corpo e o coração e a vontade nos pedem lenitivo e refrigério, perante tantas desgraças que nos podem afligir. No caso dos outros seres humanos, eu faço parte do seu mundo “objectivo”, tal como eles também fazem parte do meu.

         Convém portanto, por um lado, sondarmos o mundo com o nosso pensamento, descobrindo a realidade e deliciando-nos com ela; mas, por outro, também munir-nos de princípios e de coragem para navegarmos neste mar encapelado que é a nossa vida mortal.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

264 - Os Degraus para o Silêncio

Anulamos, descendo, o ruído à nossa volta;
depois, dentro de nós; e a seguir,

nadamos num liso lago de silêncio.

domingo, 4 de janeiro de 2015

263 - Líquida Doçura

Olá, de onde vens? De que planeta ou lua?
Que estrela cintila aqui no rumor das tuas águas?
…É tudo de tão perto … e de tão longe!


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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

262 - Ano Novo

- Neste início de novo ano e de universo,
como faremos nascer nós o amor?

- Só com dois ou mais amantes, senhor!